Carta de um morador à UNIFESP

Guarulhos,Março/2012
Antes de tudo, se faz necessária uma breve, mas importantíssima colocação, essa mensagem em forma de uma carta não tem por intenção tratar “A UNIFESP GUARULHOS” como uma totalidade, um todo homogêneo, essas palavras são direcionadas a manifestações vindas de alguns estudantes e parte do Corpo Docente, mas opto por enviá-la a todos sem distinções, pois, todas as manifestações que influenciaram para que essas palavras sejam escritas vieram por partes de participantes e organizações da instituição que levam o nome Unifesp Guarulhos.
Não represento o bairro dos Pimentas, acredito que a melhor pessoa no mundo pra falar por você é justamente você, sem representações, pensando assim falo única e exclusivamente por mim!
Participei e participo, desde o ano de 2007, como estudante ouvinte de diversas atividades realizadas pela Unifesp Guarulhos (aulas, palestras, grupo de estudos, colóquios, simpósios, feiras de livros, mini-cursos entre outras) que me auxiliaram de uma forma muito positiva, sempre fui bem recebido pelos professores que participei das aulas, e fico imensamente agradecido.
Durante esses cinco anos e alguns meses de estadia da universidade em Guarulhos, pude presenciar muitas manifestações devido às muitas insatisfações por parte de estudantes, funcionários e alguns professores; partilho de alguns posicionamentos e de outros não, mas independentemente das divergências o RESPEITO prevalece. Acredito na força do diálogo, nas múltiplas formas de se estabelecer relações, sendo assim, convido você a participar dessa modesta, mas espero que concreta conversação sobre algumas manifestações vindas de participantes da Unifesp que não tem sido muito respeitosa com a região dos Pimentas ao meu ver, e de uma boa parte dos moradores da região que vem comentando constantemente de dois anos pra cá. Tendo participado de um recente debate sobre a atual greve da universidade, numa ação de microfone aberto, devido ao que ouvi de alguns estudantes se manifestando considero necessário que essas palavras, essa carta, possam chegar a quem quer que se sinta vinculado de alguma forma com a instituição Unifesp.
De certo tempo pra cá, todo começo de ano algumas organizações estudantis tem realizado “manuais de sobrevivência” (é assim que foram batizados alguns materiais que foram distribuídos para estudantes recém chegados, calouros) como uma tentativa de auxiliar ao novo Turista (termo que alguns moradores da região utilizam para saber quem é da Unifesp) a se localizar, saber onde ficam mercados, pontos de ônibus, repúblicas e tudo o que um “Unifespano” precisa saber. A meu ver não haveria problema algum se não fossem as maneiras pejorativas que alguns MICROS ESPECIALISTAS EM IGNORÂNCIAS MÁXIMAS se referem à região.
Colocações do tipo “PIMENTAS NOS OLHOS DOS OUTROS NÃO É REFRESCO” ou “GUIA DE SOBREVIVÊNCIA DO HISTORIADOR DOS PIMENTAS” tem refletido de uma forma muito desagradável na região, espero e acredito que os criadores e propagadores dessas infelizes colocações ao meu ver não tenha tido a intenção de ofender ninguém, mas que tomem muito cuidado, pois as palavras falam o que vocês não dizem, sejam mais claros e menos inocentes , e quando digo região não me refiro só aos arredores da universidade, mas sim a maior parte do Pimentas que permanece afastada e distante tanto geograficamente quanto simbolicamente da Unifesp.
Presenciei inúmeras vezes estudantes e professores dizendo colocações do tipo “As CONDIÇÕES que a universidade se encontra aqui”, “A TOTAL falta de estrutura”,“desse jeito não tem como continuar a estudar e trabalhar aqui”, a chegar um determinado ponto onde pessoas passem a acreditar que a NOSSA REGIÃO não mereça essa Instituição Escolar, como se não fossemos dignos, capazes ou a “altura” dessa instituição, como se estivessem nos fazendo um favor com a Unifesp aqui, uma prática assistencialista da política do Adote um pobre que você fica rico; acredito também que essa não seja a intenção, mas muitas falas vindas da universidade tem caminhado pra esse sentido, tanto ao ponto de um dos patéticos, medíocres e desrespeitosos “Guia de Sobrevivência dos Pimentas” vir a convidar os Calouros a entrarem na “Estranha Galáxia em que fica o bairro dos pimentas…”,pois, “os seres” de periferia não são “tão perigosos, basta trancar bem a porta e não andar sozinho de noite” onde “moradores do pimentas querem e precisam de cultura” e “Semáforo vermelho nem sempre significa pare para os motoristas GUARULHENSES” . Além de Morarmos numa ESTRANHA GALAXIA, somos INCULTOS (lhes indicaria repensar o conceito de “Cultura”), e não oferecemos tanto perigo assim, basta TRANCAR BEM a porta e NÃO ANDAR SOZINHO(A) DE NOITE que estarão mais seguros e assim o refresco virá, pois a pimenta não arderá mais nos seus olhos, você sobreviverá na região, fará tudo o que sua grade curricular exigir, quando for conveniente entrará em contato com os arredores e escolas públicas da região pra vomitar teorias transformando o Pimentas num laboratório de experiências que podem ser bem sucedidas ou não , mas tanto faz, pois para uma parte o Pimentas tem se tornado uma “Las Vegas”, fazem o que querem e depois retornam para o conforto do “Lar”, e parabéns agora você tem um diploma, acaba de se tornar num ZUMBI LETRADO!
Acredito serialmente que a aproximação entre universidade e região é e será de extrema importância, para que possa acontecer uma transformação no Pimentas tanto quanto na universidade, mas enquanto existirem colocações do tipo “ELES, OS OUTROS, A COMUNIDADE”, haverá distâncias e diversas formas de violências na criação e reprodução constante de estereótipos e estigmas. A Universidade não veio pra cá do nada, foi um merecimento conquistado por muitos que trabalharam por isso, alguns podem não partilhar com “O LOCAL DA UNIFESP”, mas não tem nenhum direito de desrespeitar nossa conquista, afinal o Pimentas não está tão distante de onde vocês vieram, “comemoramos” os mesmos 500 anos de Brasil com 400 de escravidão!
OBS: Maiores esclarecimentos e informações email para: contato@ohuaz.com.br

Minhas Considerações.
(Léo OHUAZ)