À comunidade acadêmica da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH)
Há algum tempo a “crise da universidade pública” é alvo de discussão da academia. Desde os anos 70, as universidades de diversas localidades vêm sendo sucateadas, seja como meio de alavancar os lucros de algumas empresas via fundações de apoio, seja através da ampliação de vagas sem planejamento adequado.
Há mais de duas décadas a OMC (Organização Mundial do Comércio) colocou em sua agenda a necessidade da economia de mercado avançar nas áreas de educação, saúde e previdência social. É de acordo com estas diretrizes que no Brasil durante toda a década de 90 vimos um boom, financiado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) e outras agências estatais, do crescimento das universidades particulares. Ao mesmo tempo em que as universidades públicas, em especial as federais, sofreram, concomitantemente, um corte de verbas e um “projeto”, posteriormente, de súbita reversão com a ampliação desenfreada de vagas sem priorizar a qualidade do tripé (ensino, pesquisa e extensão). A questão, nesse sentido, não é a ampliação de vagas nas universidades federais ou públicas em geral, mas como essa ampliação vem ocorrendo.
O plano, já bastante avançado, é o de manter algumas poucas universidades ou alguns de seus campus como “centros de excelência”, quase em sua maioria, adaptados às exigências do mercado, enquanto a grande maioria deve formar profissionais qualificados, mão-de-obra especializada nos diversos ramos do conhecimento em espaços improvisados, ou seja, em infraestrutura precária, sem condições de acesso e permanência, sobretudo, nos campi onde os cursos não estão correlacionados diretamente às exigências do capital e, fantasmagoricamente, onde o perfil socioeconômico de boa parte dos alunos é desfavorável, vide os dados divulgados recentemente pela própria PRAE (Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis) sobre os campus da Universidade Federal de São Paulo, onde Guarulhos é o que se encontra em situação mais problemática – algo reconhecido pelo senhor reitor Walter Manna Albertoni em matéria publicada no Jornal O Estado de São Paulo em 12 de dezembro de 2011; contudo, sem relatar concretamente o que está sendo feito para resolver o problema, os dados são sempre colocados no vazio e pedindo uma espera ad eterno.
Tendo em vista este contexto, nós, estudantes de pós-graduação da EFLCH da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Campus Guarulhos, manifestamos através desta carta nosso apoio à greve dos estudantes de graduação.
Concordamos com a Carta de Reivindicação dos Estudantes, que apresenta os quatro eixos de reivindicações – infraestrutura, acesso e permanência, repressão, transparência –, cujos aspectos os estudantes da pós-graduação identificaram como essenciais no desenvolvimento e consolidação do campus da EFLCH.
Compartilhamos da necessidade imediata de um novo prédio para o campus, como ampliar as linhas de transportes municipais e intermunicipais, as políticas de permanência, que vão desde bolsas de auxílio-permanência até a efetiva construção de uma moradia estudantil, como maneira de reunir os estudantes num projeto participativo de sua arquitetura e ambiente habitado, e ampliar o bandejão – e que esse seja subsidiado inteiramente com verba pública, com abertura de concurso público para a contratação de funcionários – e os laboratórios de informática e de fotocópias etc. Entendemos que a transparência nos processos administrativos e a não punição de estudantes que participam de atividades políticas são essenciais a qualquer instituição que se pretenda democrática e, que deste modo, priorize o diálogo com diferentes segmentos que a compõem (gestores, professores, funcionários e estudantes), visando a resolução participativa dos problemas. Por outro lado, a estratégia a ser utilizada para reverter o quadro de sucateamento de uma universidade ainda recém-nascida no que se refere, sobretudo, à área de humanas, não pode ser outro que o de ampliar a luta. Deste modo, também vemos a necessidade de buscar apoio de outras universidades públicas (de entidades estudantis e do corpo docente).
No que tange a nossa reflexão enquanto estudantes de pós-graduação, reiteremos que esses problemas, além de dificultarem o andamento das pesquisas e dos grupos de estudos, são entraves à consolidação e à manutenção dos programas de pós-graduação vigentes no campus, uma vez que demonstram a incapacidade da EFLCH de atender as exigências dos órgãos que financiam e avaliam esses programas. Por isso, uma universidade pública, democrática e que preze pela autonomia e pensamento crítico, precisa reunir as condições de infraestrutura básica para o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão, aspectos ainda não contemplados na realidade da EFLCH UNIFESP.
assinam está carta:
Ana Lídia Oliveira Aguiar
Andrei Chikhani Massa
Bruna Aline Scaramboni
Cauê de Camargo Martins
Clara Zeferino Garcia
Clarissa Aguiar Noronha
Deborah Schimidt Neves dos Santos
Fernando Antonio Santana
Gabriela Murua
Gabriela Peters Cremasco Gonçalves
Guilherme Tadeu de Paula
Jéssica Ferreira Rodrigues
Karine Assumpção
Laís Fernanda Rodrigues
Lucas Bernasconi Jardim
Michele Corrêa de Castro
Rafael Acácio de Freitas
Rafael Marchesan Tauil
Rafaela Fernandes Narciso
Reinaldo Pereira Damião
Ricardo de Lima Jurca
Rubia de Araujo Ramos
Sarah Ferreira de Toledo
Sandro Barbosa de Oliveira
Thais Azevedo da Costa Botelho
Thiago Pacheco
Valdir Lemos Rios