Quem são os defensores da democracia na Unifesp?

Em nome da luta contra um suposto “autoritarismo” do movimento estudantil, a reitoria ameaça colocar a universidade sob intervenção policial. Uma ação tipicamente ditatorial 
27 de abril de 2012

Depois de pouco mais de um mês de greve na Unifesp, a reitoria começou a atacar de forma mais decidida os estudantes que estão lutando pelos seus direitos. A principal arma da burocracia universitária é a repressão como pode ser visto nos casos em que a Tropa de Choque foi enviada para conter um ato realizado no último dia 20 de abril, na ameaça de novos processos contra os estudantes que participam da greve e no ataque aos piquetes e barricadas montadas desde o primeiro dia de paralisação das aulas.

Em nome da luta contra uma suposta “violência” e, de forma ainda mais hipócrita, em “defesa” do direito de ir e vir, a Diretoria Acadêmica de Guarulhos ordenou que os funcionários desfizessem as barricadas e colocou ocampus e a comunidade acadêmica sob ameaça de intervenção policial caso esta resolução fosse descumprida. Esta questão tem grande relevância para todos os membros da Escola de Filosofia e Ciências Humanas (ELFCH), principalmente para os estudantes que estão participando da greve. É preciso desfazer as confusões geradas pela reitoria e diretoria acadêmica de que estão agindo em nome da “democracia” contra os grevistas que, por sua vez, seriam autoritários em seus atos.

Em primeiro lugar, a única ditadura e autoritarismo que existe na Unifesp parte da burocracia universitária. Foi na época da ditadura militar e agora, com governos que preservam praticamente a mesma estrutura daquele regime, que as universidades estão sendo colocadas sob intervenção policial. Exemplo disto é a USP, onde o governo do PSDB colocou a PM para conter o movimento estudantil e privatizar a universidade, eliminando a resistência contra este projeto. Colocar a universidade sob ameaça de intervenção policial é o oposto de defender a democracia. Pelo contrário, a utilização do aparelho repressivo do Estado para a resolução de conflitos dentro da universidade é uma ditadura e fere, entre outras coisas, a autonomia universitária, ou seja, o direito de professores, estudantes e funcionários gerirem a instituição sem a interferência governamental.

O “curioso” é que a maioria dos professores que protestaram contra o “autoritarismo” do movimento estudantil simplesmente se calou diante destes diversos ataques. É sempre bom lembrar que os partidários do golpe de 1964 também afirmavam agir em nome da “democracia”. A políticas deles, no entanto, levou o País a um dos períodos de maior perseguição aos cidadãos durante a história nacional. Por isso, defender a democracia na Unifesp, de forma verdadeira e não em palavras, é, sobretudo, defender neste momento o direito dos estudantes agirem politicamente. Neste caso, defender o direito deles paralisarem as aulas e entrarem em greve.    

Direito individual vs direito coletivo 

Quando se trata de democracia a questão central para uma população é sua capacidade de interferir nas decisões governamentais, ou seja, de controlar as instituições públicas. Na universidade, no entanto, a comunidade universitária está completamente desprovida de controle sobre os órgãos que tomam decisões que afetam diretamente a vida de todos. A reitoria, por exemplo, é um órgão burocrático completamente divorciado das pessoas que fazem parte da Unifesp. Da escolha do reitor à votação do orçamento, estudantes professores e funcionários têm participação meramente figurativa. As decisões são tomadas de forma unipessoal pelo reitor (indicado pelo presidente) e pelos diretores acadêmicos indicados por ele.

Por isso, o setor mais excluído das decisões políticas, os estudantes, tem na sua ação política a principal arma para interferir nas decisões e fazer com que suas reivindicações sejam atendidas. A greve, por exemplo, é a ação daqueles que, privados de decidir sobre os seus interesses a partir de um debate livre, precisam recorrer a estes meios para serem ouvidos.

A reitoria e alguns professores, no entanto, estão opondo a greve, ou seja, uma ação coletiva em defesa do direito de todos, a um suposto “direito individual de ir e vir”. Eles opõem, desta maneira, a greve ao “direito” que cada um teria de furar a greve.

O argumento é falso porque ao furar a greve, as pessoas que realizam este ato estão atacando o direito dos estudantes de agirem de forma coletiva e política por seus direitos. Não estão defendendo nenhum direito democrático. Estão, na verdade, impedindo e colaborando para que a reitoria impeça manifestações contrárias a ela.

Os direitos coletivos devem se sobrepor aos direitos individuais para garantir a liberdade de expressão e manifestação. Por isso, furar a greve não é um direito democrático. É justamente o oposto disto, pois contribui para que a Unifesp seja colocada em um verdadeiro Estado de sítio e que uma minoria governe a universidade em defesa de seus interesses particulares, contra a vontade e as necessidades da maioria.

A luta democrática do movimento estudantil

Os principais defensores da democracia na Unifesp agora são aqueles que estão, através da greve, se opondo ao atual regime de poder. A greve de Guarulhos, por exemplo, se levantou contra os processos contra os 48 estudantes que ocuparam a reitoria em 2008 contra a corrupção e em defesa de melhores condições de ensino. Além disso, ao defenderem reivindicações para melhorar a universidade em benefício de todos os estudantes estão, entre outras coisas, atuando em defesa da vontade da maioria e lutando para que a soberania da comunidade universitária prevaleça. E, sem soberania da maioria da comunidade unifespiana, não pode haver democracia.

Outro fato é que muitas pessoas já assinalaram que as universidades têm um regime de poder anacrônico, conservando características medievais por se basear em uma falsa “meritocracia” e em um poder “divino” dos professores mais graduados. Nas universidades não há sequer eleição direta para reitor, com todos os cidadãos tendo direito igual na hora da escolha. A luta dos estudantes, neste sentido, também é democrática na medida em que expressa o povo (comunidade universitária) em oposição à aristocracia (reitoria).

Neste sentido, chamamos todos os estudantes, funcionários e os professores que não estão comprometidos com a burocracia universitária a rejeitar a ditadura que a reitoria está tentando impor contra os grevistas.

 

Fonte: http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=36064

Crise no ensino superior

Primeira assembleia de estudantes da Unifesp Guarulhos aprova greve
A situação no campus de Guarulhos é limite. Na segunda semana de aula, cerca de mil estudantes aprovaram a paralisação das atividades até a reitoria dar uma verdadeira solução diante dos problemas enfrentados24 de março de 2012

O início do ano letivo para o campus de São Paulo da Unifesp foi em fevereiro. Para os estudantes do campus de Guarulhos começou na segunda semana de março.
O atraso ocorreu devido à situação realmente caótica em que estão ocorrendo as atividades na unidade. Nem mesmo os professores que em anos anteriores defendiam a reitoria e atacavam o movimento estudantil conseguem evitar de dizer o óbvio: a situação é insustentável.
Diversas disciplinas são ministradas no CEU (Centro de Educação Unificado) da prefeitura de Guarulhos com salas pequenas e sem infra-estrutura.
Até o ano passado essa improvisação tinha dado relativo resultado. Esse ano com cerca de 700 novos alunos não dá para disfarçar ou se iludir de que vai dar tudo certo sem pressionar a reitoria. A reitoria da Unifesp aprovou a expansão da universidade mas até agora quase não investiu e desviou o dinheiro. O prédio utilizado foi doado pela prefeitura e é totalmente inadequado. Não existe nenhum isolamento e o barulho dentro das salas torna o trabalho muito improdutivo.
Sem infra-estrutura para agüentar todas as pessoas que circulam no local, frequentemente cai a energia, as máquinas de copiar quebram e os estudantes não conseguem ter o texto em mãos para acompanhar as aulas.
O próprio reitor em dezembro de 2011 afirmou que o caso mais grave na Unifesp é do campus de Guarulhos. Em entrevista, Walter Manna Albertoni afirmou “Guarulhos é realmente o maior problema”. “O número de vagas é grande e o número de novos alunos é sempre maior do que o de formados. Começa a sobrar gente.”
O que ele não fala é que a verba destinada para a infraestrutura dos campi novos da universidade foi roubada pela administração central. Os 34 milhões do dinheiro do Reuni (plano de expansão das universidades federais) para a infra-estrutura das unidades de Guarulhos, Baixada Santista, Diadema, São José dos Campos em 2009 foram desviadas para a compra de novo prédio para a reitoria, com o gasto declarado de 18 milhões e pagamento de negociação de contas atrasadas de água dos prédios da Vila Clementino, antigo campus da universidade.
A biblioteca da unidade está em um local improvisado e é muito precária, possuindo mais de 10 mil livros encaixotados por falta de espaço e de funcionários para cadastrá-los.
Segundo dados fornecidos pela própria reitoria, para o funcionamento da unidade seriam necessários 130 funcionários. Atualmente há apenas 50.
O campus de Guarulhos foi inaugurado no bairro dos Pimentas em 2007 e abriga seis cursos na área de Humanas: Ciências Sociais, Filosofia, História, História da Arte, Letras e Pedagogia. Funciona em uma área doada pela prefeitura e uma área vazia aguarda o prédio principal que não foi construído.
Professores denunciam que projetos no curso de ciências sociais podem perder financiamento devido à falta de local para que sejam adquiridos equipamentos.
Com o pretexto de problemas legais com a licitação para a construção do prédio na Unifesp campus de Guarulhos a estrutura básica como as salas de aulas faltam.
A promessa de prédio definitivo existe desde a abertura do campus e deixando muitos prejuízos, o prédio não sai do papel.
Os estudantes não devem aceitar este tratamento como “estudantes de segunda linha” e reivindicar as necessárias estruturas na universidade para o seu funcionamento.
Organizar a greve com atos e manifestações
A assembleia dos estudantes se iniciou por volta de 18h30 na última quinta-feira. Foram feitas várias intervenções de denúncia da situação do campus, da perseguição sofrida pelos estudantes e a necessidade de aprovação da greve estudantil com uma pauta própria, além de propor que professores e funcionários também paralisem as atividades.
A votação foi ganha com ampla maioria e logo depois de vencer por ampla maior, um membro da atlética pediu para fazer uma declaração na qual afirmou que a votação não teria validade. Com uma alegação absurda de que em uma assembleia em 2011 teria sido aprovado a impossibilidade de aprovar greve na “primeira assembleia do ano”. É uma alegação completamente absurda e que contraria a tradição de organização do movimento estudantil.
O fórum convocado pelos estudantes para debater os problemas enfrentados na universidade tem independência e autonomia para decidir o que achar necessário. A assembleia geral para debater os problemas de infra-estrutura no campus de Guarulhos é legítima e marca uma posição política clara dos estudantes de não aceitar mais a farsa que é o ensino no local.
Alguns professores finalizaram as aulas, incitando os estudantes a irem até a assembleia apenas para votar contra a greve. Nesse momento começou uma forte chuva e não há sequer uma marquise na unidade. Após a indecisão de como prosseguir o fórum estudantil, decidiram ocupar o teatro e encaminhar as decisões.
Apesar do tumulto causado por um pequeno grupo que ficou contrariado com a decisão de fazer a greve, o movimento estudantil conseguiu superar e manter a legítima decisão dos estudantes.
Foram marcadas reuniões para organização das atividades de greve, políticas e culturais.
É importante a realização de diversos debates e manifestações contra a reitoria até que esta devolva o dinheiro da infra-estrutura das unidades para que estas possam de fato existir.

http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=35521