Crítica aos docentes do Curso de História

Em mais uma mobilização, uma parte dos docentes do Curso de História¹ se posiciona
contra a greve, método de luta utilizado pelo movimento estudantil. O argumento é sabido por todos nós: concorda-se com a pauta de reivindicação, rejeita-se o método. Não há problemas em existir divergências e posicionamentos diversos na universidade. A liberdade de pensamento e de expressão são princípios que devem ser respeitados. Os problemas existem quando prevalece a intolerância política por meio de “propostas de diferentes cenários para reposição de aulas do ano letivo de 2012”. Cenários estes, também tema de debate da reunião extraordinária da Congregação do Campus Guarulhos.

Não questionamos a disposição de alguns docentes colocarem propostas para solução
de questões que são reais e necessárias como a de reposição de aulas, cancelamento do
semestre etc. questões estas que os estudantes devem debater e decidir. Questionamos sim, a postura de alguns professores laçarem mão destas questões para pressionar os estudantes ao retorno das aulas. No ano de 2010, o colegiado do Curso de História divulgou um calendário de aulas antes mesmo da finalização da greve, dessa maneira abriu precedentes para que docentes de outros cursos tivessem a mesma postura. Felizmente, a História registra os que praticam o “diálogo” e os que agem de acordo com as decisões coletivas.

Congregação discute o 1º semestre de 2012

Quando argumentação em relação ao movimento grevista não existe mais por parte
da diretoria acadêmica e alguns membros da Congregação, surgem medidas repressivas, a
exemplo das sindicâncias e ideias como a de jubilamento dos calouros, usadas para colocar
medo nos estudantes pressionando pelo retorno à sala de aula. Como caracterizar estas ações? Intimidação? Imposição de medos individuais?

A repressão e a pressão são ações para que o movimento recue, o que no atual
contexto significa sair da greve sem conquistas, pois sequer houve negociação da pauta
de reivindicação. Ao contrário, houve aumento da repressão ao movimento estudantil.
Lembrando que uma das pautas é o fim dos processos iniciados em 2008 contra 48 estudantes. A diretoria recentemente criminalizou os estudantes pela retirada dos tapumes. Como podemos verificar, a política que prevalece na universidade é parte da política geral de criminalização dos movimentos sociais. Os estudantes devem responder as ações da diretoria acadêmica e da Congregação do Campus à altura, colocando a situação real de necessidade das reivindicações apontadas na pauta do movimento estudantil e defender que o direito de manifestação política seja garantido contra as medidas repressivas e antidemocráticas.

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1. A referência “uma parte dos docentes do Curso de História”, mostra que um grupo compartilha do mesmo posicionamento político. Nas discussões acerca do movimento grevista nem sempre é possível identificar nomes para citação em um texto. Além disso, decidimos não atribuir o posicionamento político a um único sujeito, porque esta mesma posição é defendida por um grupo da categoria docente.

Repúdio às Ações Ilegais da Diretoria e Reitoria

Quando a liberdade de divulgar o pensamento [1] se vê ameaçada, isso não traduz uma ojeriza à Constituição? Em termos legais não é uma afronta a direitos universais garantidos pela carta de 1988? Quando são nomeados estudantes e feitos dossiês com textos que visam criminalizar e podar os pluralismos de idéias [2], não denota a desfaçatez com que o jeitinho brasileiro – cordial – se assume ante a legalidade? Quando a letra da lei é utilizada para a garantia de uma pequena fatia poderosa, que se utiliza do discurso legal para perpetrar a mazela com o dinheiro público, não é sinônimo de favorecimento ilícito que põe fim a gestão democrática do ensino público[3]? Quando as universidades que gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial [4], não obedecem ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, não significa o fim da Universidade pública? Quando a gratuidade do ensino é posta em xeque em estabelecimentos oficiais [5], surge o desmantelamento constitucional. Acaso os cursos oferecidos pela FAP, não promovem isso? Quando oReitor se utiliza do cacete da tropa de choque como forma de dialogo, não significa que subestima a capacidade intelectual de cada discente, tratando-os como animais que não sabem conversar? Quando o acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um [6], não são garantidos numa universidade pela falta de infraestrutura, e nada é feito para consolidação disso, não quer nos dizer que a lei está morta? Quando uma estudante busca as razões para o fim da legalidade perpretado pela Reitoria e seu diretor, entendendo a Constituição, não significa que isso é um desespero pela perda de todos os valores de justiça que foram construídos historicamente? Quando tudo isso ocorre ante nossas vistas, fica apenas uma pergunta parada no ar: Até quando aguentaremos? [7]

[1] Art.206. (I)
[2] Art. 206 (III)
[3] Art. 206 (VI)
[4]  Art. 207.
[5]  Art. 206 (IV)
[6]  Art. 208 (V)
[7]  Esse texto foi produzido, baseando-se nos Artigos 206, 207 e 208 da Constituição e grande parte de seus incisos.